Por que Eu Uso a Expressão ‘Justiça Social’? (Timothy Gombis)
* Timothy Gombis (PhD. University of St. Andrews) é professor de Novo Testamento na Cornerstone University. Mais conhecido por seus estudos nas cartas e teologia paulina e leciona em cursos de hermenêutica bíblica, teologia bíblica e exegese do Novo Testamento. É também autor de “The Drama of Ephesians: Participating in the Triumph of God”.
O termo ‘justiça social’ tem ocasionado muita discussão desde a publicação de uma declaração sobre o evangelho cristão e sua relação com a justiça social. Uma das dificuldades com a expressão é de que nem todo mundo que usa o termo concorda com a uma definição do seu significado.
A seguir explicarei o que eu entendo por ‘justiça social’ e porque eu uso esta expressão.
Eu falo sobre ‘justiça social’ porque eu confesso que sou um cristão e eu acredito que isso captura muito bem realidades cristãs.
Deus é tanto social quanto justo. Ele mesmo é uma sociedade (Pai, Filho e Espírito) e se deleita em se socializar com suas criaturas. E ele é justiça ou retidão. Esses termos portugueses levemente diferentes obscurecem a realidade de que na Escritura, eles são os mesmos. Isto é, os termos hebraicos e gregos para ‘justo’ e ‘justificado’¹ são o mesmo, infelizmente fazendo com que quem fale português faça uma separação daquilo que a Escritura mantém unido.
O Senhor que eu confesso e sigo é social: Ele é o Filho e se relaciona com o Pai.
Na morte, ressurreição e ascensão de Jesus, Deus deu início a uma obra de justiça social. A obra de Cristo é tanto uma ação social quanto uma ação de justiça (uma obra just-ificadora²). Deus criou uma nova realidade social (a igreja) por meio da morte de Cristo. E Deus justificou (ou retificou, ou tornou justo) seu novo corpo social, perdoando seus pecados sociais, suas injustiças sociais cometidas contra os outros e contra Deus. Deus criou uma nova realidade social entre si mesmo e seu povo, perdoando os pecados que nos alienaram — uma situação social ruim.
Jesus enviou seu Espírito ao mundo para criar uma entidade social (a igreja), um povo apaixonado por fazer justiça/retidão no âmbito social (Tito 2:14).
Eu confesso publicamente minha participação em uma sociedade de justiça — o reino de Deus, uma realidade social debaixo do Senhor Jesus Cristo.
Jesus convocou o povo para abandonar uma sociedade de comportamentos injustos (mentiras, roubos, opressão aos pobres, exploração dos fracos, maltratar os estrangeiros, etc.) e adotarem comportamentos sociais justos (cuidado com os pobres, hospitalidade com os estrangeiros, dizer a verdade, compartilhar, confessar os pecados, perdoar). Nós chamamos isso de arrependimento pelos pecados, e todos comportamentos, tanto justos quanto injustos, são sociais (Lucas 3:7–14).
Na verdade, é difícil imaginar qualquer comportamento que tenha sido ensinado por Jesus que não tenha nada a ver com justiça/retidão, que é social.
Ele irá julgar os vivos e os mortos em sua vinda baseado em sua conformidade com sua visão de justiça social. Ele irá julgar baseado em se as pessoas receberam estrangeiros e imigrantes, se elas compartilharam com aqueles que estão em necessidade, se elas trouxeram alívio para aqueles que estão sofrendo e se elas estão visitando as pessoas na prisão (Mateus 25:31–46). Ele irá julgar baseado no seu cuidado com os pobres, os órfãos e as viúvas e se elas se comportaram de maneiras socialmente injustas, tais como cultivar amizade com pessoas ricas — o tipo de pessoas que diz que alguém pode ser cristão sem praticar justiça no reino social (Tiago 1:27–2:26).
A prática central da nova sociedade de Deus é se reunir em torno da mesa, o evento social que por si mesmo proclama a justa realidade social que Deus trouxe por meio de Cristo (1 Coríntios 11:17–35). Paulo afirma para os coríntios que alguns deles estão morrendo ou ficando doentes porque eles estavam comendo o banquete da justiça social enquanto estavam praticando injustiças socioeconômicas.
A igreja do primeiro século lutou pela inclusão de judeus e não-judeus em um único corpo social de forma que eles deveriam se comportar como a nova sociedade de Deus pela justiça. Algo que todos eles concordavam era a questão da justiça social: eles deveriam priorizar o cuidado com os pobres (Gálatas 2:10).
A Bíblia cristã é uma coletânea de mídia social sobre justiça. Ele é formado por uma mídia (cartas, evangelhos, apocalipses, narrativas, e obras poéticas) em que podemos ouvir de Deus sobre como devemos nos comportar em uma realidade social justa em que nós fomos batizados.
O batismo também é um ato de justiça social: nele eu declaro a minha morte para uma ordem de injustiça social e a minha nova participação no corpo político de Jesus.
Embora eu possa continuar, isso foi apenas para afirmar que eu uso a expressão ‘justiça social’ porque ela se refere a basicamente todos os aspectos do ser cristão e a visão de vida a qual Deus, por meio de Cristo, chama a humanidade [para viver].
Eu uso [a expressão] porque cristãos nos Estados Unidos e no Ocidente individualizaram praticamente tudo sobre a fé cristã. A nossa versão de fé cristã vem até nós já completamente individualizada de forma que a expressão ‘justiça social’ nos ajuda a recapturar as nossas imaginações que foram colonizadas.
Timothy Gombis “Why I Talk About ‘Social Justice’”. Disponível em:
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Tradução: Matheus Ramos de Avila